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sexta-feira, julho 14, 2006

ÍNDICE GERAL

Aniquilacionismo

Aniquilacionismo

É a doutrina da extinção das almas dos ímpios em vez de serem enviadas, conscientes, para o inferno eterno. Os descrentes serão destruídos, enquanto os justos entrarão no estado de bem-aventurança.


Apoio das Escrituras

A segunda morte. Os aniquilacionistas apontam para referências bíblicas sobre o destino dos ímpios como a “segunda morte” (Ap 20.14) para apoiar sua teoria. Já que a pessoa perde a consciência deste mundo na primeira morte (morte física), argumenta-se que a “segunda morte” envolverá inconsciência no mundo por vir.

Destruição eterna. As Escrituras falam dos ímpios sendo “destruídos”. Paulo disse:
“... quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes. Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder" (2 Ts 7b-9).

Os aniquilacionistas insistem que a figura da “destruição” é incompatível com a existência contínua e consciente.

Perdição. Os ímpios são descritos como reservados para a “perdição” (ECA) ou “destruição” (RA, 2 Pe 3.7), e Judas é chamado “destinado à perdição” (Jo 17.12). A palavra perdição (apoleia) significa perecer. Isso, argumentam os aniquilacionistas, indica que os perdidos perecerão ou deixarão de existir.

O mesmo que não haver nascido. Jesus disse sobre Judas, que foi levado para a perdição, que “melhor lhe seria não haver nascido” (Mc 14.21). Antes de uma pessoa ser concebida ela não existe. Então, se o inferno é igual à condição de pré-nascimento, deve ser um estado de inexistência.

Os ímpios perecerão. Várias vezes o Antigo Testamento menciona os ímpios perecendo. O salmista escreveu: “Mas os ímpios, murcharão, perecerão; e os inimigos do Senhor como a beleza dos campos desvanecerão como fumaça” (Sl 37.20; cf. 68.2; 112.10). Perecer, todavia, implica no estado de inexistência.


Respondendo aos Argumentos das Escrituras

Quando examinadas cuidadosamente em seu contexto, nenhuma das passagens acima comprova o aniquilacionismo. Em alguns pontos a linguagem pode permitir tal conclusão, mas em nenhum caso o texto exige o aniquilacionismo. Examinando em cada contexto e em comparação com outras passagens das Escrituras, o conceito deve ser rejeitado em todos os casos.

Separação, não extinção. A primeira morte é apenas a separação entre a alma e o corpo (Tg 2.26), não a aniquilação da alma. As Escrituras apresentam a morte como separação consciente. Adão e Eva morreram espiritualmente no momento em que pecaram, mas ainda existiram e podiam ouvir a voz de Deus (Gn 3.10). Antes de sermos salvos, estamos “... mortos em [...] transgressões e pecados” (Ef 2.1), e ainda assim trazemos em nós a imagem de Deus (Gn 1.27; cf. Gn 9.6; Tg 3.9). Apesar de serem incapazes de chegar-se a Cristo sem a intervenção de Deus, os “espiritualmente mortos” estão suficientemente cônscios de que as Escrituras exigem que eles creiam (At 16.31), e se arrependam (At 17.30). Consciência contínua, no estado de separação de Deus e de incapacidade para salvar-se – essa constitui a visão das Escrituras sobre a segunda morte.

Destruição, não inexistência. Destruição “eterna” não seria aniquilação, que só dura um instante e acaba. Se alguém sofre destruição eterna, então deve ter existência eterna. Os carros num depósito de ferro velho já foram destruídos, mas não aniquilados. Eles simplesmente são irreparáveis ou, irrecuperáveis. As pessoas no inferno também.

Já que a palavra perdição significa morrer, perecer ou arruinar, as mesmas objeções se aplicam. Em 2 Pedro 3.7 a palavra perdição (RA) é usada no contexto de julgamento, claramente implicando consciência. Na analogia do ferro velho os carros destruídos pereceram, mas ainda são carros. Nesse contexto, Jesus falou do inferno como depósito de lixo onde o fogo não cessaria e onde o corpo ressurreto de uma pessoa não seria consumido (Mc 9.48).

Além dos comentários sobre a morte e perdição anteriores, deve-se observar que a palavra hebraica usada para descrever os ímpios perecendo no Antigo Testamento ('āvad) também é usada para descrever os justos perecendo (v. Is 57.1; Mq 7.2). Mas até os aniquilacionistas admitem que os justos não serão aniquilados. Sendo esse o caso, não deveriam concluir que os ímpios deixarão de existir com base nesse termo.

A mesma palavra ('āvad) é usada para descrever coisas que estão apenas perdidas e mais tarde são encontradas (Dt 22.3), o que prova que perdido não significa inexistente.

Melhor lhe seria...” Quando diz que teria sido melhor se Judas não tivesse nascido, Jesus não está comparando a perdição de Judas com a inexistência antes da concepção, mas com sua existência antes do nascimento. Essa linguagem figurada hiperbólica muito provavelmente indicaria a severidade do seu castigo; não é uma afirmação sobre a superioridade da inexistência sobre a existência. Numa condenação paralela dos fariseus, Jesus disse que Sodoma e Gomorra se arrependeriam se tivessem visto os milagres dele (Mt 11.23, 24). Isso não quer dizer que realmente teriam se arrependido, pois em tal caso Deus certamente lhes teria mostrado esses milagres – 2 Pedro 3.9. É simplesmente uma linguagem figurada poderosa que indica que seu pecado foi tão grande que “no dia do juízo haverá menor rigor para Sodoma” que para eles (Mt 11.24).

Além disso, o nada jamais poderá ser melhor que algo, já que não existe entre eles qualquer coisa comum por meio da qual compará-los. Então não-existir não pode ser realmente melhor que existir. Supor o contrário é um erro de categoria.


Argumentos Bíblicos – Além da ausência de qualquer passagem definitiva a favor do aniquilacionismo, vários textos apóiam a doutrina de castigo consciente eterno. Um breve resumo inclui:

O homem rico no Hades. Ao contrário de parábolas que não têm personagens reais, Jesus contou a história de um mendigo real chamado Lázaro que foi para o céu e de um homem rico que morreu e foi para o Hades e estava em tormento consciente (Lc 16.22-28). Ele clamou:

“Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, por que estou sofrendo muito neste fogo”. Mas Abraão respondeu: “Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento” (v. 24.25).

O homem rico implorou que seus irmãos fossem avisados “a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento” (v. 28). Não há indício de aniquilação nesta passagem; ele está sofrendo tormento constante e consciente.

O lugar de choro e ranger de dentes. Jesus disse várias vezes que as pessoas no inferno estão em agonia constante. Ele declarou que “os súditos do Reino serão lançados para fora, nas trevas onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8.12; cf. 22.13; 24.51; 25.30). Mas um lugar de choro é obviamente um lugar de tristeza consciente. Quem não está consciente não chora.

O lugar onde o fogo não se apaga. Várias vezes Jesus chamou o inferno “lugar de fogo inextinguível” (Mc 9.43-48) onde os corpos dos ímpios nunca morrerão (cf. Lc 12.4,5). Mas não faria sentido haver fogo eterno e corpos desprovidos de almas para sofrer o tormento.

Um lugar de tormento eterno. João, o apóstolo, descreveu o inferno como um lugar de tormento eterno, declarando:

“O Diabo [...] foi lançado no lago de fogo que arde com enxofre, onde já haviam sido lançados a besta e o falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite, para todo o sempre" (Ap 20.10).

O lugar para a besta e o falso profeta. Exemplificando claramente que esses seres ainda estarão conscientes depois de anos de tormento no inferno, a Bíblia diz sobre a besta e o falso profeta que “os dois foram lançados dentro do lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 19.20) antes dos “mil anos” (Ap 20.2). Mas depois desse período “o Diabo, que as enganava, foi lançado no lado de fogo que arde com enxofre, onde já haviam sido lançados a besta e o falso profeta" (Ap 20.10). Eles não só estavam “vivos” quando entraram, como também ainda estavam vivos depois de anos de tormento conscientes.

O lugar de castigo consciente. O fato de que os ímpios “sofrerão a pena de destruição eterna” (2 Ts 1.9) implica que eles devem estar conscientes. Não se pode sofrer penalidade sem existência. Não é castigo bater num cadáver. Uma pessoa inconsciente não sente dor.

A aniquilação não seria um castigo, mas sim um livramento de toda penalidade. Jó pôde sofrer algo pior que aniquilação nesta vida. O castigo dos ímpios no pós-vida teria de ser consciente. Doutra forma, Deus teria dado um castigo menor aos ímpios que a alguns justos, pois nem todos os ímpios sofrem tanto quanto os justos nesta vida.

O lugar eterno. O inferno é descrito como tendo a mesma duração que o céu: “eterno” (Mt 25.41). Já que os santos são descritos como conscientemente alegres (Lc 23.43; 2 Co 5.8; Fp 1.23), os pecadores no inferno estão conscientes durante o castigo (cf. Lc 16).


Argumentos Filosóficos – A favor da aniquilação. Além dos argumentos bíblicos, muitos aniquilacionistas oferecem razões filosóficas para rejeitar o castigo consciente e eterno. Entretanto, da perspectiva teísta, a maioria delas nada mais é que uma variação do tema da misericórdia de Deus. Os argumentos dos que negam o teísmo ou a imortalidade humana são vistos nesses respectivos artigos.

Os aniquilacionistas argumentam que Deus é um Ser misericordioso (Êx 20.6), e é desumano deixar que pessoas sofram conscientemente para sempre. Matamos animais encurralados quando não podemos retirá-los de compartimentos em chamas. Livramos outras criaturas de seu sofrimento. Os aniquilacionistas argumentam que um Deus misericordioso certamente faria o mesmo por suas criaturas.

Contra a aniquilação. O próprio conceito de um Deus absolutamente misericordioso implica que ele é o padrão absoluto de que é misericordioso e moralmente correto. Na verdade, o argumento moral para a existência de Deus demonstra isso. Mas se Deus é o padrão absoluto de justiça moral, não lhe podemos impor nosso conceito de justiça. A própria idéia de injustiça pressupõe um padrão absoluto, que os teístas atribuem a Deus.

A aniquilação rebaixa tanto o amor de Deus quanto a natureza dos seres humanos como criaturas morais. Seria como se Deus lhes dissesse; “Permitirei que sejam livres apenas se fizerem o que eu mandar. Se não fizerem, então eliminarei sua liberdade e existência!”. Isso seria como se um pai dissesse ao filho que esperava que ele fosse médico, mas, quando o filho decidisse ser um guarda florestal, o pai o matasse. O sofrimento eterno é o testemunho eterno da liberdade e dignidade dos seres humanos, mesmo dos que não se arrependem.

Seria contrário à natureza dos homens aniquilá-los, já que foram feitos à imagem e semelhança de Deus, que é eterno (Gn 1.27). Os animais geralmente são mortos para que aliviemos sua dor. Mas (a despeito do movimento da eutanásia) não podemos fazer o mesmo com os seres humanos exatamente porque não são meros animais. São seres criados à imagem de Deus e, por isso, devem ser tratados com o maior respeito pela dignidade de portadores da imagem de Deus. Não permitir que continuem a existir segundo destino que escolheram, por mais doloroso que seja, é eliminar a imagem de Deus neles.

Além disso, eliminar uma criatura feita à imagem imortal de Deus é renunciar ao que Deus lhe deu – a imortalidade. Equivale, no caso de Deus, a atacar a própria imagem ao destruir seus portadores. Mas Deus não age contra si mesmo.

Castigar o crime de dizer uma meia-verdade com a mesma ferocidade que um genocídio é injusto. Hitler deveria receber um castigo maior que um ladrão comum, apesar de ambos os crimes afrontarem a santidade infinita de Deus. Certamente nem todo julgamento proporcional ao pecado é executado nesta vida. A Bíblia fala sobre níveis de penalidade no inferno (Mt 5.22; Ap 20.12-14). Mas não há níveis de aniquilação. A inexistência seria a mesma para todos.


Conclusão: A doutrina da aniquilação tem bases mais sentimentais que bíblicas. Várias passagens afirmam claramente que os ímpios sofrerão eterna e conscientemente no inferno.

Mito

O que é um mito? Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).

A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.

Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito – é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável.

Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe?

De três maneiras principais:

1. Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi-humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades, como quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc.

A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados.

Tomemos um exemplo da narrativa mítica.

Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e também serem amadas, o mito narra a origem do amor, isto é, o nascimento do deus Eros (que conhecemos mais com o nome de Cupido):

Houve uma grande festa entre os deuses. To dos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida.

2. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as forças divinas, ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens.

O poeta Homero, na Ilíada, que narra a guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliavase com um grupo e fazia um dos lados - ou os troianos ou os gregos - vencer uma batalha.

A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe troiano Paris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos.

3. Encontrando as recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece.

Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, o fogo é essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, porque tanto passam a cozinhar os alimentos, a iluminar caminhos na noite, a se aquecer no inverno quanto podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra.

Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens também. Qual foi o castigo dos homens?

Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males no mundo.

Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias.

A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie). Gonia, portanto, quer dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Cosmos, como já vimos, quer dizer mundo ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas.

Teogonia é uma palavra composta de gonia e theós, que, em grego, significa: as coisas divinas, os seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.

Qual é a pergunta dos estudiosos? É a seguinte: A Filosofia, ao nascer, é, como já dissemos, uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia?

Duas foram as respostas dadas.

A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava um grande otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então, que a Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente.

A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles.

Atualmente consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a Filosofia, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.

Quais são as diferenças entre Filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais importantes:

1. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A Filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são;

2. O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a Filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais.

O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra a origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A Filosofia explica o surgimento desses seres por composição, combinação e separação dos quatro elementos - úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar.

3. O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.

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Cosmovisão

Modo pelo qual a pessoa vê ou interpreta a realidade. A palavra alemã é Weltanschau-ung, que significa um "mundo e uma visão de vida", ou "um paradigma”. É a estrutura por meio da qual a pessoa entende os dados da vida. Uma cosmovisão influencia muito a maneira em que a pessoa vê Deus, origens, mal, natureza humana, valores e destino.

Há sete visões principais de mundo. Cada uma é singular. Com uma exceção, PANTEÍSMO/POLITEÍSMO, ninguém pode acreditar coerentemente em mais de uma cosmovisão, porque as premissas centrais são mutuamente exclusivas É claro que apenas uma cosmovisão pode ser verdadeira. As sete cosmovisões principais são: teísmo, deísmo, ateísmo, panteísmo, panenteísmo, teísmo finito e politeísmo.


1 - Analisando As Visões

Teísmo - Um Deus infinito e pessoal existe além do e no universo. O teísmo diz que o universo físico não é tudo que existe. Há um Deus infinito e pessoal além do universo que o criou, que o sustenta e que age nele de forma sobrenatural. Está transcendentalmente "em algum lugar distante" e imanentemente "aqui". É a visão representada pelo judaísmo tradicional, o cristianismo e o islamismo.

Deísmo - Deus está além do universo, mas não nele. O deísmo é o teísmo sem milagres. Diz que Deus é transcendente sobre o universo mas não imanente nele, por certo não sobrenaturalmente. Defende uma visão naturalista da operação do mundo. Junto com o teísmo, acredita que o originador do mundo é um Criador. Deus fez o mundo, mas não age nele. Ele “deu corda na criação e a deixa funcionar sozinha”. Ao contrário do panteísmo, que nega a transcendência de Deus, favorecendo a sua imanência, o deísmo nega a imanência de Deus, favorecendo sua transcendência. François-Marie VOLTAIRE, Thomas JEFFERSON e Thomas PAINE foram deístas.

Ateísmo - Não existe nenhum Deus além do ou no universo. O ateísmo afirma que o universo físico é tudo que existe. Não existe nenhum Deus em lugar algum, nem no universo nem além dele. O universo ou cosmos é tudo que existe e tudo que jamais existirá. Tudo é matéria. O universo é auto-suficiente. Alguns dos ateus mais famosos foram Karl MARX, Friedrich NIETZSCHE e Jean-Paul SARTRE.

Panteísmo - Deus é o Todo/Universo. Para o panteísta, não há Criador transcendente além do universo. O Criador e a criação são duas maneiras de denotar uma realidade. Deus é o universo ou Todo, e o universo é Deus. Há, em última análise, uma realidade, não muitas diferentes. Tudo é mente. O panteísmo é representado por certas formas de hinduísmo. ZEN-BUDISMO e Ciência Cristã.

Panenteísmo - Deus está no universo, como a mente está no corpo. O universo é o "corpo" de Deus; É seu pólo real. Mas há outro "pólo" de Deus além do universo físico. Ele tem potencial infinito de se transformar. Essa visão é representada por Alfred North WHITEHEAD, Charles HARTSHORNE e Shubert Ogden.

Teísmo Finito - Existe um Deus finito além do e no universo. O teísmo finito é como o teísmo, só que o deus além do universo e ativo nele é limitado em natureza e poder. Como os deístas, os teístas finitos geralmente aceitam a criação, mas negam a intervenção milagrosa. Muitas vezes a incapacidade de Deus de derrotar o mal é dada como razão para crer que Deus é limitado em poder. John Stuart MILL, William JAMES e Peter Bertocci defendem essa cosmovisão.

Politeísmo - Muitos deuses existem além do mundo e nele. O politeísmo é a crença em muitos deuses finitos, que influenciam o mundo. Seus defensores negam que qualquer Deus infinito esteja além do mundo. Afirmam que os deuses são ativos, geralmente acreditando que cada um tem seu próprio domínio. Quando um deus finito é considerado chefe sobre os outros, a religião é chamada de honoteísmo. Os principais representantes do Politeísmo incluem os gregos antigos, os mórmons e os neopagãos (ex.: adeptos da wicca).



2 - Importância de Uma Cosmovisão

Cosmovisões influenciam o significado pessoal e os valores, a maneira em que as pessoas agem e pensam. A pergunta mais importante a que uma cosmovisão responde, é: "De onde viemos?". A resposta a essa pergunta é crucial para o modo pelo qual as outras perguntas são respondidas. O teísmo declara que Deus nos criou. A criação foi do nada, ex nihilo. O ateísmo acredita que evoluímos por acaso. O ateísmo defende a criação a partir da matéria, ex materia. O panteísmo afirma que emanamos de Deus como raios do sol ou fagulhas do fogo. A criação é a partir do próprio Deus, ex Deo. Os outros usam alguma forma dessas explicações, com ligeiras diferenças.

Essa idéia influenciaria a visão sobre a morte, por exemplo. O teísta acredita na imortalidade pessoal; o ateu geralmente não. Para o teísta, a morte é o começo, para o ateu, um término da existência. Para o panteísta, a morte é o fim de uma vida e o começo de outra, levando uma eventual união com Deus.

Os teístas acreditam que foram criados por Deus com o propósito de ter comunhão eternamente com ele e adorá-lo. Os panteístas acreditam que perderemos toda identidade individual em Deus. Os ateus geralmente vêem a IMORTALIDADE como a continuação da espécie. Vivemos nas memórias (por certo tempo) e na influência que temos sobre as gerações futuras.

Obviamente, o que a pessoa acredita sobre o futuro influenciará como ela vive agora. No teísmo clássico, “só vivemos na terra uma vez” (cf. Hb 9:27), portanto a vida assume uma certa sobriedade e urgência que não teria para alguém que acredita em reencarnação. A urgência é em lidar com o carma para a próxima vida ser melhor. Mas sempre há mais oportunidades nas vidas futuras de tentar novamente. Para o ateu, o velho comercial de cerveja resume tudo: Temos de “viver pra valer, porque só vivemos uma vez”.

Um ato virtuoso recebe significados deferentes das diversas visões de mundo. O teísta vê um ato de compaixão como obrigação absoluta imposta por Deus, que tem valor intrínseco independentemente das conseqüências. O ateu vê a virtude como obrigação auto-imposta que a raça humana colocou sobre seus membros. Um ato não tem valor intrínseco além do que lhe foi designado pela sociedade.

Também há um abismo entre cosmovisões com relação à natureza dos valores. Para o teísta, Deus dotou certas coisas, a vida humana por exemplo, com valor supremo. É sagrada porque Deus a fez à sua imagem. Assim, há obrigações divinas de respeitar a vida e proibições absolutas contra o assassinato. Para o ateu, a vida tem o valor que lhe foi atribuído pela raça humana e suas diversas sociedades. É relativamente valiosa, comparada com outras coisas. Geralmente o ateu acredita que um ato é bom se traz bons resultados e mau se não traz. O cristão acredita que certos atos são bons, não importa quais sejam os resultados.

Enfim, a realidade é ou apenas o universo, ou apenas Deus, ou o universo e Deus(es). Se só existe o universo, o ateísmo está correto. Se só Deus existe, o panteísmo está correto. Se Deus e o universo existem, então ou há um Deus ou muitos deuses. Se há muitos deuses, o politeísmo está correto. Se há apenas um Deus, esse Deus é ou finito ou infinito. Se há um deus finito, o teísmo finito está correto. Se esse deus finito tem dois pólos (um além do e um no mundo), o panenteísmo está correto. Se há um Deus infinito, ou há intervenção desse Deus no universo ou não há. Se há intervenção, o teísmo é verdadeiro, e se não há o deísmo é verdadeiro.



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